Maria Madalena de Pazzi, o tesouro escondido na Igreja
Quatrocentos anos após sua morte, estudos e documentos inéditos lançam uma nova luz sobre a espiritualidade “pascal” e jubilosa da santa mística de Florença
de Chiara Vasciaveo
As anotações originais dos Colóquios de Santa Maria Madalena de Pazzi, encontradas em 2005 por Chiara Vasciaveo; Arquivo de Santa Maria dos Anjos, Florença
Em 25 de maio de 2007, celebrou-se o quarto centenário da morte de Santa Maria Madalena (1566-1607), carmelita florentina e mestre de vida espiritual. Tamanha era a fama de sua santidade entre o povo e o clero, que, muito cedo, em 1611, deu-se início a seu processo de beatificação. Em 8 de maio de 1626, foi proclamada beata por Urbano VIII e, em 28 de abril de 1669, canonizada por Clemente IX.
Importantes estudiosos afirmam que “Maria Madalena de Pazzi, ao lado de Angela de Foligno e Catarina de Sena, é, entre as italianas, a escritora espiritual mais conhecida”1. Muitas testemunhas respeitadas do catolicismo estimaram seu testemunho e sua palavra. Veneráveis como Diomira do Verbo Encarnado (Margherita Allegri, 1651-1677), das Irmãs Estabelecidas na Caridade (Filipinas de Florença), beatos como Ippolito Galantini (†1619) ou santos como Afonso Maria de Ligório (1696-1787)2 e Teresa de Lisieux (1873-1897)3, alimentaram uma significativa veneração pela mística de Florença.
Paulo VI gostava de reler suas obras, enquanto padre Divo Barsotti, em sua última visita às monjas de Careggi, não teve medo de declarar, com intensos traços autobiográficos: “Santa Maria Madalena vive sua missão de amor por nós. [...] Por isso, eu gostaria de pôr a mim mesmo e a toda a comunidade de São Sérgio nas mãos de Santa Maria Madalena. [...] Ela foi a amiga, o auxílio, a luz do meu caminho. Nós lhe agradecemos muito por isso. Eu jamais poderia pensar que nos pudesse ser dada nesta vida uma experiência tão viva e profunda, tão especialmente divina”4. Infelizmente, uma devoção pouco esclarecida e cultores imprudentes de seu testemunho divulgaram por meio de textos e imagens uma visão barroca da santa (em outras palavras, uma interpretação particular daquilo que ela viveu, mais inclinada a ver apenas os fatos extraordinários), não dando atenção a suas palavras. Essas palavras, fortes e incisivas, são capazes de imprimir-se a fogo em seus ouvintes, exigindo uma renovação eclesial urgente. Talvez por isso, os textos autênticos da carmelita são lidos por poucos, mesmo neste centenário. Com todos os riscos que podemos intuir.
Entre os santos cristãos, existem modelos diferentes de santidade. Geralmente são mais “fáceis” e mais compreendidas as missões caracterizadas pelo serviço de caridade e pela misericórdia. É mais complicada a acolhida de dons proféticos, caracterizados não tanto “pelo anúncio do futuro” quanto por um autêntico magistério espiritual, vivido na escuta da Palavra e autenticado pela coerência da vida.
Uma vida escondida
A biografia de Santa Maria Madalena é caracterizada por poucos eventos. Numa das famílias de maior destaque da nobreza florentina, Caterina nasceu em 2 de abril de 1566, segunda filha de Maria Buondelmonti e Camillo di Geri de’ Pazzi. Em dois períodos (de 1574 a 1578 e de 1580 a 1581), foi educanda em San Giovannino pelas Cavaleiras de Malta. Talvez ainda jovem demais, optou por se tornar monja carmelita, entrando em Santa Maria dos Anjos aos dezesseis anos (27 de novembro de 1582), bem pouco tempo depois do final do Concílio de Trento (1545-1563).
Os primeiros cinco anos de vida monástica são os mais conhecidos da biografia de Santa Maria Madalena. “Transes”, “raptos”, dramatizações de episódios evangélicos se misturam com a vida ordinária da jovem carmelita. Na realidade, sob essas etiquetas se reúne uma variedade de fenômenos bastante diversificados, baseados na meditação orante sobre a Palavra. No grande carmelo de Santa Maria dos Anjos (o mais antigo da ordem), com quase oitenta monjas no período em que viveu Madalena, várias delas tinham um elevado perfil espiritual, desde a madre Evangelista del Giocondo até Pacifica del Tovaglia, amiga e uma das principais “secretárias” da santa.
Por cerca de vinte anos, ela viveu ocupada silenciosamente com essa mistura de oração e trabalho que é própria da vida monástica. Depois de ter sido responsável pela acolhida das jovens que vinham para o alojamento de forasteiras (1586-1589), ela esteve ligada, de várias maneiras, à formação das jovens a partir de 1589, até se tornar subprioresa a partir de 1604. Adoecendo, passou os três últimos anos de sua vida por sofrimentos do corpo e do espírito, falecendo em 25 de maio de 1607, aos quarenta e um anos.
Importantes estudiosos afirmam que “Maria Madalena de Pazzi, ao lado de Angela de Foligno e Catarina de Sena, é, entre as italianas, a escritora espiritual mais conhecida”1. Muitas testemunhas respeitadas do catolicismo estimaram seu testemunho e sua palavra. Veneráveis como Diomira do Verbo Encarnado (Margherita Allegri, 1651-1677), das Irmãs Estabelecidas na Caridade (Filipinas de Florença), beatos como Ippolito Galantini (†1619) ou santos como Afonso Maria de Ligório (1696-1787)2 e Teresa de Lisieux (1873-1897)3, alimentaram uma significativa veneração pela mística de Florença.
Paulo VI gostava de reler suas obras, enquanto padre Divo Barsotti, em sua última visita às monjas de Careggi, não teve medo de declarar, com intensos traços autobiográficos: “Santa Maria Madalena vive sua missão de amor por nós. [...] Por isso, eu gostaria de pôr a mim mesmo e a toda a comunidade de São Sérgio nas mãos de Santa Maria Madalena. [...] Ela foi a amiga, o auxílio, a luz do meu caminho. Nós lhe agradecemos muito por isso. Eu jamais poderia pensar que nos pudesse ser dada nesta vida uma experiência tão viva e profunda, tão especialmente divina”4. Infelizmente, uma devoção pouco esclarecida e cultores imprudentes de seu testemunho divulgaram por meio de textos e imagens uma visão barroca da santa (em outras palavras, uma interpretação particular daquilo que ela viveu, mais inclinada a ver apenas os fatos extraordinários), não dando atenção a suas palavras. Essas palavras, fortes e incisivas, são capazes de imprimir-se a fogo em seus ouvintes, exigindo uma renovação eclesial urgente. Talvez por isso, os textos autênticos da carmelita são lidos por poucos, mesmo neste centenário. Com todos os riscos que podemos intuir.
Entre os santos cristãos, existem modelos diferentes de santidade. Geralmente são mais “fáceis” e mais compreendidas as missões caracterizadas pelo serviço de caridade e pela misericórdia. É mais complicada a acolhida de dons proféticos, caracterizados não tanto “pelo anúncio do futuro” quanto por um autêntico magistério espiritual, vivido na escuta da Palavra e autenticado pela coerência da vida.
Uma vida escondida
A biografia de Santa Maria Madalena é caracterizada por poucos eventos. Numa das famílias de maior destaque da nobreza florentina, Caterina nasceu em 2 de abril de 1566, segunda filha de Maria Buondelmonti e Camillo di Geri de’ Pazzi. Em dois períodos (de 1574 a 1578 e de 1580 a 1581), foi educanda em San Giovannino pelas Cavaleiras de Malta. Talvez ainda jovem demais, optou por se tornar monja carmelita, entrando em Santa Maria dos Anjos aos dezesseis anos (27 de novembro de 1582), bem pouco tempo depois do final do Concílio de Trento (1545-1563).
Os primeiros cinco anos de vida monástica são os mais conhecidos da biografia de Santa Maria Madalena. “Transes”, “raptos”, dramatizações de episódios evangélicos se misturam com a vida ordinária da jovem carmelita. Na realidade, sob essas etiquetas se reúne uma variedade de fenômenos bastante diversificados, baseados na meditação orante sobre a Palavra. No grande carmelo de Santa Maria dos Anjos (o mais antigo da ordem), com quase oitenta monjas no período em que viveu Madalena, várias delas tinham um elevado perfil espiritual, desde a madre Evangelista del Giocondo até Pacifica del Tovaglia, amiga e uma das principais “secretárias” da santa.
Por cerca de vinte anos, ela viveu ocupada silenciosamente com essa mistura de oração e trabalho que é própria da vida monástica. Depois de ter sido responsável pela acolhida das jovens que vinham para o alojamento de forasteiras (1586-1589), ela esteve ligada, de várias maneiras, à formação das jovens a partir de 1589, até se tornar subprioresa a partir de 1604. Adoecendo, passou os três últimos anos de sua vida por sofrimentos do corpo e do espírito, falecendo em 25 de maio de 1607, aos quarenta e um anos.
Santa Maria Madalena de Pazzi, mulher que o Espírito habita, ícone de irmã Benedetta Tenore, coleção particular
“Se Deus é comunicativo”
O carmelo de Santa Maria dos Anjos esteve ligado por vários anos aos círculos femininos de Savonarola. Nele, circulavam havia tempo testemunhos e fontes manuscritas sobre mulheres célebres e estimadas, como as dominicanas Santa Catarina de Ricci de Prato (1522-1590) e a beata Maria Bartoloméia de Bagnesi (1514-1577), cujo corpo é venerado ainda hoje no carmelo florentino. Seu confessor passou a ser, a partir de 1563, o próprio governador do mosteiro.
Mencionamos o destaque que era dado pela santa à Escritura. Uma testemunha dizia durante o processo canônico: “Eu me lembro, em particular, de que todos os sábados, tomando o livro dos evangelhos, ela pegava dois ou três pontos do evangelho do domingo seguinte, a sua escolha, e meditava sobre eles a semana inteira, gastando cerca de duas horas pela manhã e uma, à noite, nessa meditação” (Sum 57). Dessa familiaridade, que amadureceu em ambientes franciscanos e dominicanos, brotou sua pessoal compreensão de Deus como Deus comunicativo.
A efusão superabundante do Espírito, acolhida particularmente no Pentecostes de 1585, conduziu a jovem carmelita pelos caminhos austeros de um deserto constituído pelo esforço da criatura e da Igreja para dar espaço a essa graça e pela necessidade de crescer no consciência da misericórdia de um Deus que é “Pai apaixonado”, Verbo doador de um “beijo de pai” e Espírito, fogo transformador5. Seguramente, fugindo de um sentimentalismo excessivo, que seus devotos absolutizaram sem querer, é o espaço central dado à Trindade na vida espiritual e eclesial o maior dom que a santa pode oferecer ao nosso tempo.
Assim, do encontro com o Deus comunhão, Santa Maria Madalena foi enriquecida não apenas de uma alegria profunda, mas também de uma gradual tomada de consciência da maneira inadequada como muitos homens e mulheres, mesmo externamente cristãos e às vezes, o que é pior, religiosos e padres, correspondem à oferta do Filho e de seu Espírito. Amar a Cristo, para Santa Maria Madalena, não significava deter-se apenas afetivamente na consideração de suas chagas físicas, mas amadurecer um amor apaixonado pelo corpo ferido e dilacerado de Cristo que é a Igreja. Acolher a Cristo significou para ela, por exemplo, abrir os olhos para a decepção de suas expectativas, ao deparar-se com uma vida religiosa pobre em relações fraternas, mesmo sendo rica em rituais.
Amar a Cristo e a sua Igreja, apesar da mediocridade – como ela dizia, da “maldita tibieza” – de tantos batizados e “christi” (sacerdotes), foi certamente para ela “Inferno e Paraíso ao mesmo tempo”. E podemos compreender, então, como somente o dom do Espírito a “obrigou”, como a Santa Catarina e a Savonarola, a uma obra estimada, mas efetivamente não ouvida, de “renovatione da Igreja”.
Apesar disso, por meio de encontros interpessoais, mas também de cartas ditadas (mas nem sempre enviadas) até mesmo ao Papa e aos cardeais, ela respondeu de sua parte à missão que recebeu, chamando a atenção de todos para uma vida pessoal e eclesial baseada na nudez do Evangelho.
O carmelo de Santa Maria dos Anjos esteve ligado por vários anos aos círculos femininos de Savonarola. Nele, circulavam havia tempo testemunhos e fontes manuscritas sobre mulheres célebres e estimadas, como as dominicanas Santa Catarina de Ricci de Prato (1522-1590) e a beata Maria Bartoloméia de Bagnesi (1514-1577), cujo corpo é venerado ainda hoje no carmelo florentino. Seu confessor passou a ser, a partir de 1563, o próprio governador do mosteiro.
Mencionamos o destaque que era dado pela santa à Escritura. Uma testemunha dizia durante o processo canônico: “Eu me lembro, em particular, de que todos os sábados, tomando o livro dos evangelhos, ela pegava dois ou três pontos do evangelho do domingo seguinte, a sua escolha, e meditava sobre eles a semana inteira, gastando cerca de duas horas pela manhã e uma, à noite, nessa meditação” (Sum 57). Dessa familiaridade, que amadureceu em ambientes franciscanos e dominicanos, brotou sua pessoal compreensão de Deus como Deus comunicativo.
A efusão superabundante do Espírito, acolhida particularmente no Pentecostes de 1585, conduziu a jovem carmelita pelos caminhos austeros de um deserto constituído pelo esforço da criatura e da Igreja para dar espaço a essa graça e pela necessidade de crescer no consciência da misericórdia de um Deus que é “Pai apaixonado”, Verbo doador de um “beijo de pai” e Espírito, fogo transformador5. Seguramente, fugindo de um sentimentalismo excessivo, que seus devotos absolutizaram sem querer, é o espaço central dado à Trindade na vida espiritual e eclesial o maior dom que a santa pode oferecer ao nosso tempo.
Assim, do encontro com o Deus comunhão, Santa Maria Madalena foi enriquecida não apenas de uma alegria profunda, mas também de uma gradual tomada de consciência da maneira inadequada como muitos homens e mulheres, mesmo externamente cristãos e às vezes, o que é pior, religiosos e padres, correspondem à oferta do Filho e de seu Espírito. Amar a Cristo, para Santa Maria Madalena, não significava deter-se apenas afetivamente na consideração de suas chagas físicas, mas amadurecer um amor apaixonado pelo corpo ferido e dilacerado de Cristo que é a Igreja. Acolher a Cristo significou para ela, por exemplo, abrir os olhos para a decepção de suas expectativas, ao deparar-se com uma vida religiosa pobre em relações fraternas, mesmo sendo rica em rituais.
Amar a Cristo e a sua Igreja, apesar da mediocridade – como ela dizia, da “maldita tibieza” – de tantos batizados e “christi” (sacerdotes), foi certamente para ela “Inferno e Paraíso ao mesmo tempo”. E podemos compreender, então, como somente o dom do Espírito a “obrigou”, como a Santa Catarina e a Savonarola, a uma obra estimada, mas efetivamente não ouvida, de “renovatione da Igreja”.
Apesar disso, por meio de encontros interpessoais, mas também de cartas ditadas (mas nem sempre enviadas) até mesmo ao Papa e aos cardeais, ela respondeu de sua parte à missão que recebeu, chamando a atenção de todos para uma vida pessoal e eclesial baseada na nudez do Evangelho.
O manuscrito original da carta sobre a “Renovatione da Igreja”, de Santa Maria Madalena de Pazzi, endereçada a Sixto V, mas nunca enviada; Arquivo de Santa Maria dos Anjos. Abaixo, Santa Maria Madalena de Pazzi, mulher que o Espírito habita
“Para ser esposa e não serva”
A mística de Santa Maria Madalena, na escola de Catarina de Sena, é uma mística eclesial que chama à conversão todo o povo de Deus, não para “repreendê-lo”, como afirmam alguns, mas para que, diante do Espírito que bate à porta, alguém “se abra a esse dom”.
É bonito o testemunho (cujo original foi encontrado) dado pela prioresa Evangelista, em 1º de maio de 1595: “Eu, irmã Evangelista, para a glória do Pai eterno, me lembro de como irmã Maria Madalena, neste dia primeiro de maio de 1595, prometeu a Deus querer ser sua esposa e não serva para maior glória Sua, e de como, para que se compadecesse dela e mais a ajudasse com seus dons, prometeu caminhar nua com seu Deus e ouvir apenas sua voz e a daqueles que ocupam seu lugar, e, quando tivesse dúvidas de alguma coisa, querer tomar conselho antes do Cristo nu e da alma mais nua que seus olhos e os de seus superiores divisassem”6.
Se dermos crédito aos textos, e não aos comentários, parece que o coração da experiência de Santa Maria Madalena não estava no sofrimento (que ela também viveu, gerado pelos problemas de saúde e por uma ascese pouco equilibrada), mas consistia no aprofundamento teologal de uma aliança esponsal com o Senhor, rica num “amor puro”, que ela gostava de chamar “morto”, num amor de esposa . Foi desse amor pascal, que lança raízes no sangue divinizante da Eucaristia, graças aos sopro do Espírito, que ela viveu. Foi dessa acolhida que brotou sua frágil palavra de mulher, repleta da força do Evangelho. Seu corpo incorrupto, venerado no carmelo florentino de Santa Maria dos Anjos, e guardado ainda hoje pela presença orante de suas irmãs, é um humilde testemunho de tudo isso.
Santa Maria Madalena é um tesouro escondido a ser redescoberto, pela Igreja florentina e pela Igreja universal. Padre Barsotti esperava que ela um dia fosse reconhecida doutora da Igreja. Os muitos peregrinos, vindos de diversos continentes, por caminhos quase impensáveis, para “encontrá-la”, dirigindo-se a seu corpo, nos fazem refletir sobre a necessidade de que sua voz seja ouvida e sua missão posta em prática.
Notas
1 Pozzi, G., Leonardi, C. Scrittrici mistiche italiane. Gênova, Marietti, 1988, p. 419.
2 Cf. Santo Afonso M. de Ligório. La vera sposa di Gesù Cristo. Frigento, Casa Mariana, 1991, pp. 23.25.29. 39.157ss.
3 Cf. Teresinha do Menino Jesus. Opere complete di santa Teresa di Gesù Bambino e del Volto Santo. Scritti e ultime parole. Roma, Libreria Editrice Vaticana, ed. OCD, ms. A, 183.
4 Barsotti, D. Riflessioni (12 de julho de 2005), transcrição. Careggi, 2005.
5 Vasciaveo, C. Danzare al passo di Dio. Santa Maria Maddalena di Firenze. Siena, Cantagalli, 2006. “‘...in noi una fonte di acqua viva’. Mistica e profecia in santa Maria Maddalena di Firenze”. In: Horeb, 46 (2007), nº 1.
6 Promessa (1º de maio de 1595). In: Miscellanea Santa Maria Maddalena. Arquivo de Santa Maria dos Anjos, 1.4.IA.2.
A mística de Santa Maria Madalena, na escola de Catarina de Sena, é uma mística eclesial que chama à conversão todo o povo de Deus, não para “repreendê-lo”, como afirmam alguns, mas para que, diante do Espírito que bate à porta, alguém “se abra a esse dom”.
É bonito o testemunho (cujo original foi encontrado) dado pela prioresa Evangelista, em 1º de maio de 1595: “Eu, irmã Evangelista, para a glória do Pai eterno, me lembro de como irmã Maria Madalena, neste dia primeiro de maio de 1595, prometeu a Deus querer ser sua esposa e não serva para maior glória Sua, e de como, para que se compadecesse dela e mais a ajudasse com seus dons, prometeu caminhar nua com seu Deus e ouvir apenas sua voz e a daqueles que ocupam seu lugar, e, quando tivesse dúvidas de alguma coisa, querer tomar conselho antes do Cristo nu e da alma mais nua que seus olhos e os de seus superiores divisassem”6.
Se dermos crédito aos textos, e não aos comentários, parece que o coração da experiência de Santa Maria Madalena não estava no sofrimento (que ela também viveu, gerado pelos problemas de saúde e por uma ascese pouco equilibrada), mas consistia no aprofundamento teologal de uma aliança esponsal com o Senhor, rica num “amor puro”, que ela gostava de chamar “morto”, num amor de esposa . Foi desse amor pascal, que lança raízes no sangue divinizante da Eucaristia, graças aos sopro do Espírito, que ela viveu. Foi dessa acolhida que brotou sua frágil palavra de mulher, repleta da força do Evangelho. Seu corpo incorrupto, venerado no carmelo florentino de Santa Maria dos Anjos, e guardado ainda hoje pela presença orante de suas irmãs, é um humilde testemunho de tudo isso.
Santa Maria Madalena é um tesouro escondido a ser redescoberto, pela Igreja florentina e pela Igreja universal. Padre Barsotti esperava que ela um dia fosse reconhecida doutora da Igreja. Os muitos peregrinos, vindos de diversos continentes, por caminhos quase impensáveis, para “encontrá-la”, dirigindo-se a seu corpo, nos fazem refletir sobre a necessidade de que sua voz seja ouvida e sua missão posta em prática.
Notas
1 Pozzi, G., Leonardi, C. Scrittrici mistiche italiane. Gênova, Marietti, 1988, p. 419.
2 Cf. Santo Afonso M. de Ligório. La vera sposa di Gesù Cristo. Frigento, Casa Mariana, 1991, pp. 23.25.29. 39.157ss.
3 Cf. Teresinha do Menino Jesus. Opere complete di santa Teresa di Gesù Bambino e del Volto Santo. Scritti e ultime parole. Roma, Libreria Editrice Vaticana, ed. OCD, ms. A, 183.
4 Barsotti, D. Riflessioni (12 de julho de 2005), transcrição. Careggi, 2005.
5 Vasciaveo, C. Danzare al passo di Dio. Santa Maria Maddalena di Firenze. Siena, Cantagalli, 2006. “‘...in noi una fonte di acqua viva’. Mistica e profecia in santa Maria Maddalena di Firenze”. In: Horeb, 46 (2007), nº 1.
6 Promessa (1º de maio de 1595). In: Miscellanea Santa Maria Maddalena. Arquivo de Santa Maria dos Anjos, 1.4.IA.2.
Sem comentários:
Enviar um comentário